HOMOLOGAÇÃO

Dados do Caso

Gastrointestinal

ASCARIDÍASE BILIAR

268
Selecionado
Tipo Caso 1
  • Fernanda da Silveira Malacarne - CENTRO DE ESTUDOS DO CENTRO RADIOLOGICO CAMPINAS
  • Guilherme Baptistella de Nápoli - HOSPITAL E MATERNIDADE CELSO PIERRO - PUC CAMPINAS
-
15/02/2021
14/07/2021
Male, 63 anos
Ascaridíase, Doenças do Ducto Colédoco, Doenças dos Ductos Biliares, Parasitos

Resumo

A obstrução biliar ocorre quando há bloqueio do fluxo biliar do fígado para o duodeno. Dentre as possíveis causas obstrutivas, a parasitose é uma delas, sendo o verme mais comumente associado o Ascaris lumbricoides. Embora a ultrassonografia seja o método inicial de investigação, a colangiorressonância confirma o diagnóstico ultrassonográfico que, por ser em tempo real, permite a visualização de movimento do verme e já ser conclusivo.

Histórico Clínico

Homem de 63 anos e ex-etilista comparece ao P.S. com quadro de icterícia há 1 mês. Realizados exames laboratoriais, apresentando leucocitose e elevação dos níveis séricos de gama-GT, fosfatase alcalina, transaminases e bilirrubina total. Como métodos de imagem, foram realizados ultrassonografia de abdome superior, tomografia computadorizada e colangiorressonância.

Achados Radiológicos

À ultrassonografia (Fig. 1), observaram-se formações tubuliformes ecogênicas na vesicular biliar e no hepatocolédoco, com discreta dilatação das vias biliares associada. Na tomografia computadorizada de abdome total com contraste endovenoso realizada em sequência (Fig. 2 e 3), evidenciou-se conteúdo alongado no interior do hepatocolédoco, e imagens semelhantes na vesicular biliar, em maior quantidade, sem nítidos sinais inflamatórios associados. No estudo colangiográfico (Fig. 4, 5 e 6), os mesmos achados foram encontrados, porém puderam ser avaliados de maneira mais precisa, dada a maior resolução tecidual do método. Foram vistas formações alongadas no interior do hepatocolédoco e no interior da vesícula biliar, nesta última notando-se um conglomerado destas imagens com aspecto serpigiforme, sem sinais inflamatórios associados.

Discussão

A obstrução biliar ocorre quando há bloqueio do fluxo biliar do fígado para o duodeno resultando em redirecionamento da bile e suas frações (bilirrubina) para a corrente sanguínea. Dentre as complicações mais comuns, a colangite com posterior formação de abscessos hepáticos requer especial atenção devido a eventual necessidade de intervenção cirúrgica imediata. A causa principal de obstrução biliar é a coledocolitíase, entretanto, há diversas outras etiologias tais como inflamatórias, infecciosas e neoplásicas. [1] Dentre as causas infecciosas, a de origem bacteriana é a principal causa no ocidente mas, em determinadas partes do mundo, os parasitas tem um papel importante seja como agentes causais ou predispondo o hospedeiro a superinfecção bacteriana. [2] A parasitose por A. lumbricoides afeta 25% da população mundial, sendo comum em áreas tropicais e subtropicais. Os ovos ingeridos liberam larvas no duodeno, os quais podem atravessar a ampola de Vater, alcançando os ductos biliares, pancreáticos e a vesícula biliar. Em adultos podem se estabelecer no colédoco, causando obstrução mecânica no ducto e consequentemente estase biliar. As bactérias intestinais trazidas pelo parasita podem levar a colangite e quando ganham acesso às vias biliares intra-hepáticas, podem levar a necrose e abscessos. [2] Embora a ultrassonografia permaneça como a modalidade inicial para avaliação de obstrução biliar, a utilização de multimodalidades como tomografia computadorizada e colangiorresonância pode trazer maior acurácia no diagnóstico, sendo a colangiorressonância o padrão-ouro para investigação de obstrução biliar. [1;3] Na ultrassonografia, os vermes aparecem como estruturas intrabiliares de formato alongado, com paredes ecogênicas e centro hipoecoico (correspondendo ao trato intestinal do verme), sem determinar sombra acústica, podendo se mover lentamente em tempo real. Na tomografia computadorizada, os vermes são hiperdensos, a vesícula biliar pode estar distendida e os ductos biliares dilatados, com paredes edemaciadas. [2] Na ressonância magnética exibem baixo sinal em T2 e o trato gastrointestinal do verme pode aparecer como hiperintenso. [2;4] A colangiorressonância evidencia os vermes intraductais como falhas de enchimento lineares e com baixo sinal em T2 sendo que o trato gastrointestinal do verme pode aparecer com alto sinal em T2. [2;4] Este fluido com alto sinal dentro da alça intestinal separa o corpo tubular do verme em duas partes, formando uma aparência em “três linhas” hipointensas, sinal característico da ascaridíase biliar. [5;6]

Lista de Diferenciais

  • Coledocolitíase
  • Carcinoma de vesícula biliar
  • Colangiocarcinoma
  • Cisto de colédoco
  • Esquistossomose hepatoesplênica

Diagnóstico

  • Ascaridíase biliar

Aprendizado

Os exames de imagem são fundamentais para o diagnóstico da obstrução de via biliar, sendo a colangiorressonância o padrão-ouro para sua avaliação. A identificação de dilatação de vias biliares requer investigação etiológica, sendo que as causas parasitárias devem ser consideradas, principalmente havendo contexto epidemiológico favorável. É de grande importância o papel do radiologista no diagnóstico precoce a fim de auxiliar no planejamento de tratamento.

Referências

  • 1) Joshi A, Rajpal K, Kakadiya K et al. Role of CT and MRCP in Evaluation of Biliary Tract Obstruction. Curr Radiol Rep 2014;2(11):72. doi: 10.1007/s40134-014-0072-x
  • 2) Catalano OA, Sahani DV, Forcione DG, et al. Biliary infections: spectrum of imaging findings and management. Radiographics 2009;29(7):2059-80. doi: 10.1148/rg.297095051
  • 3) Connor OJ, Neill S, Maher MM. Imaging of biliary tract disease. AJR Am J Roentgenol. 2011;197(4):W551-8. doi: 10,2215/AJR.10.4341
  • 4) Yeh BM, Liu PS, Soto JA, Corvera CA, Hussain HK. MR Imaging and CT of the Biliary Tract. Radiographics 2009;29(6):1669-88. doi: 10.1148/rg.296095514
  • 5) Hashmi MA, De JK. Biliary ascariasis on magnetic resonance cholangiopancreatography. J Glob Infect Dis. 2009;1(2):144-145. doi: 10.4103/0974-777X.56248
  • 6) Ding ZX, Yuan JH, Chong V et al. 3T MR cholangiopancreatography appearances of biliary ascariasis. Clin. Radiol. 2011;66(3):275-7. doi: 10.1016/j.crad.2010.11.004.

Informações do Caso

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