Paciente vem realizar ecografia obstétrica para datação de gestação. No exame foram observadas múltiplas malformações fetais, incluindo ectopia cordis e acrania, associadas à presença de traves ecogênicas em contato com o feto na cavidade amniótica, sendo diagnosticada com síndrome da banda amniótica.
Gestante de 22 anos, tabagista, vem ao serviço de diagnóstico por imagem para realizar ultrassonografia (US) obstétrica de datação e crescimento fetal. Referiu um parto normal prévio, com história de pré-eclâmpsia na gestação anterior. Negou abortos prévios. História recente de cirurgia de alta frequência (CAF) para excisão de neoplasia intraepitelial cervical de alto grau e tratamento de tricomoníase vaginal com metronidazol via oral. Sem alterações ao exame físico obstétrico.
Ultrassonografia obstétrica demonstrou feto único, com idade gestacional estimada em 18 semanas e 5 dias (Imagem 1); placenta (p) de inserção posterior grau 0 de maturidade (Imagem 1, 2, 3 e 4; Vídeo 1 e 2); líquido amniótico em quantidade normal para idade gestacional; presença de bandas ecogênicas (b) na cavidade amniótica em contato direito com o feto (Imagem 2 e 3; Vídeo 1 e 2), determinando defeito de fechamento da parede torácica anterior associado à ectopia cordis (*) (Imagem 1 e 2; Vídeo 1 e 2) e acrania com exteriorização do tecido encefálico (e) (Imagem 4; Vídeo 1 e 2).
Ecogenicidade linear intrauterina (ELI) é considerada um achado ultrassonográfico comum no útero gravídico. Sua origem pode estar relacionada a diversas causas, dentre elas, gestações múltiplas, sinéquias uterinas, malformações uterinas e a síndrome da banda amniótica (SBA). A SBA é um diagnóstico diferencial raro de ELI e está associada a complicações para o binômio materno-fetal. [1,2] A incidência das bandas amnióticas varia de 1:1200 a 1:15000 nascidos vivos, com igual proporção entre os sexos. [3,4]
A ocorrência da SBA é considerada esporádica e sua etiologia é divergente na literatura. [3,5] O variado espectro de anomalias fetais sugere associação de diferentes mecanismos de lesão ao feto. O mecanismo mais aceito descreve uma ruptura precoce do âmnio, formando bandas fibrosas resistentes que aderem a partes fetais, podendo causar anéis de constrição e efeitos mecânicos, como deformidades. [1,3,5] Outros pesquisadores afirmam que ocorrem falhas locais no plasma germinativo, levando à ruptura vascular e interrupção do fluxo sanguíneo do feto, o que explicaria as anomalias viscerais. [1,3,5]
O diagnóstico pré-natal é suspeitado no final do primeiro trimestre e confirmado através de ultrassom (US). Dependendo do local de fixação das bandas no feto, diferentes achados de US poderão ser vistos. [1,2] As bandas são comumente finas (2–4 mm) e às vezes frouxas e onduladas. Mãos e pés estão envolvidos em 80% dos casos, enquanto em aproximadamente 10% ocorre a constrição do cordão umbilical. Uma grande variedade de anormalidades de membros pode ocorrer e variar em gravidade, de anéis de constrição até amputações. Outras anormalidades são fenda labial e palatina, rupturas craniofaciais, defeitos do tubo neural, defeitos cranianos, escoliose e defeitos da parede corporal, como gastrosquise e coração extratorácico. [1,2,4] A ressonância magnética pode mostrar bandas como fitas hipointensas em T2 e é usada de forma complementar para melhorar a caracterização das anomalias fetais. [1,4]
Nem sempre as bandas são vistas no exame de imagem, devendo-se considerar de acordo com a caracterização das anomalias. Dentre as alterações possíveis de serem identificadas, assimetrias podem gerar maior suspeita de SBA. Alterações genéticas e insultos externos geralmente ocasionam anomalias simétricas. Também, lateralizações de efeitos tipicamente mediais podem indicar a presença de bandas amnióticas. [1,2]
Caso as bandas sejam diagnosticadas precocemente, os pacientes podem se beneficiar da lise in utero em casos selecionados, melhorando o prognóstico funcional. [4]
A síndrome da banda amniótica é a ocorrência aleatória de deformidades fetais não explicadas por alterações genéticas, cuja etiologia ainda está sendo estudada. Deve ser suspeitada quando observamos anomalias fetais assimétricas e movimento fetal restrito na ultrassonografia, não necessitando da visualização obrigatória das traves fibróticas para o diagnóstico. A ressonância é um método complementar para melhor caracterizar as malformações.